Desporto, um aliado na gestão de carreira

por Catarina Estevam em 8/25/2021

Artigo de opinião "Desporto: um aliado no desenvolvimento e gestão de carreira" é de autoria de Catarina Estevam, People & Talent Manager na KCS iT. Foi publicado primeiramente no meio ComunicaRH.

 

O desporto começou a fazer parte da minha vida bastante cedo. Assim que comecei a entrar no mercado de trabalho fiz o exercício de me questionar – Como pode o desporto ajudar-me a alcançar os meus desafios profissionais? Enquanto escrevo, percorro novamente este a caminho de introspeção, deixando-vos algumas recomendações. 

É inegável que o desporto acrescenta muito valor nas nossas vidas. Mas talvez não sejam muitas as vezes que refletimos sobre os seus reais impactos. Qualquer pesquisa ou reflexão nos permite concluir que temas como: a cooperação, a superação e a resiliência estão diretamente relacionadas com a prática desportiva. Mas o que nos ensina o desporto, sobre a prosperidade profissional?

 

O sentido de responsabilidade

Não há dúvidas que acrescentar um compromisso no nosso horário, em particular que envolva outras pessoas, nos vai aumentar o sentido de responsabilização pelo cumprimento do mesmo. Especialmente, se estivermos a falar de desportos em equipa, esta realidade é muito presente. Por muito que a preguiça aperte, temos sempre em consideração que outras pessoas (que estimamos inclusive), também estão a dispor do seu tempo para um objetivo comum. Percebemos que o meu tempo é valioso, o tempo dos outros também.

A capacidade de organização e a polivalência

A necessidade de conciliar responsabilidades académicas, desportivas e sociais/familiares nas 24 horas diárias, permite-nos entender que todos os minutos contam! Com organização, conseguimos praticamente tudo – incluindo o que pensávamos não ser possível. Passa a ser um processo natural, a necessidade de organizar e também de priorizar as nossas tarefas. Com a experiência, passamos a ser polivalentes – dedicamo-nos a vários temas diferentes e vamos claramente desenvolver a capacidade de nos adaptar aos ambientes ao nosso redor. Vamos desenvolvendo comportamentos e atitudes tais como a facilidade de criar empatia que se adaptam aos diferentes círculos (familiares, desportivos e académicos) e muito valorizados em ambiente profissional.

O trabalho em equipa e a via da reciprocidade

Na vida pessoal, no trabalho e tal como no desporto, o desenvolvimento individual depende da equipa e vice-versa. Aprendemos então a via da reciprocidade- isto é a capacidade de trabalhar em equipa e a entreajuda. Infelizmente, o oposto também é possível- ou seja, a violência no desporto é uma manifestação da falta destes mesmo valores.

Tal como os treinadores devem fomentar valores como - Respeito, Disciplina, Fair-Play – o mesmo é imprescindível para os líderes das empresas. Uma liderança inspiradora deverá assentar nas Boas-Práticas de inclusão e de gestão.

Resistência ao Stress

Quantas vezes lemos a Resistência ao stress como um requisito obrigatório de uma oportunidade de emprego? Já pensaram como podemos simular estas situações e criar defesas para quando sentimos estas emoções?

Lembro-me de diversas situações em que a minha capacidade de gerir o stress surge em ambiente desportivo. Caracterizado muitas vezes pelo batimento cardíaco acelerado, a visão quase a ficar turva e a necessidade de respirar fundo - passar ao meu corpo a mensagem que está tudo bem e que a concentração é tudo o que preciso.

Alguns exemplos práticos: comentários depreciativos que ouvimos das bancadas; ter nas minhas mãos a decisão – não posso falhar neste momento, a minha equipa depende de mim; sentir outros elementos envolvidos muito tensos em comunicações com a equipa de arbitragem ou até mesmo com elementos das equipas. Será assim tão diferente de situações em que o ambiente não é amigável num contexto profissional?

A derrota e a gestão da frustração

Hoje em dia, falamos muito da importância da nossa saúde mental. Muito fruto da atual Pandemia que ainda atravessamos. Mas questões fulcrais como a resiliência devem ser de facto trabalhadas assim que possível. Será que existe melhor treino e prática que o desporto? Gerir a derrota e a frustração que dela advém é um processo essencial para a construção da nossa capacidade de resiliência, e assim reagir de forma mais positiva perante as adversidades. Sim, é verdade, nem sempre conseguimos o que queremos. E dizer o contrário é um erro crasso.

A atividade desportiva não ensina apenas a gerir a imensa frustração de trabalhar para alcançar um objetivo e não o atingir, como também se revelou como essencial em refletir e identificar o porquê de não ter sido atingido. Enquanto profissional, este processo de errar, aprender e readaptar é decisivo e permite adquirir competências para desempenhar as nossas funções.

Em resumo, o que nos dizem os especialistas? Entre diversas outras vantagens, o desporto, essencialmente em idades escolares, demonstra melhorar o raciocínio, reduzir o stress, potenciar a concentração e aumentar a disciplina. Curioso até que, na Austrália, é obrigatória a prática de dois desportos, um coletivo e outro individual. A relação benéfica entre a prática desportiva e melhor qualidade de vida tem como principais impactos não só a melhoria da saúde física, mas também mental. É de facto uma ferramenta poderosa para diminuir o aparecimento de sintomas de Burn Out, melhorar a autoestima e também prevenir e ajudar a combater a ansiedade e a depressão.

De realçar, que os principais pilares que foram mencionados, fazem claramente parte da lista das Soft Skills mais procuradas pelas empresas no atual mercado de trabalho. As competências técnicas em alguns casos passaram para segundo plano, porque efetivamente se revelam mais simples de ensinar ou trabalhar, quando comparamos com Resiliência, Gestão de Stress, Cooperação, Adaptabilidade ou Polivalência, por exemplo. Porque, inevitavelmente, requerem experiência prévia para adquirir o conhecimento. Simular uma situação de stress, de frustração ou que requer adaptabilidade no mundo real pode ser difícil. Será o desporto um catalisador de competências tão cruciais?

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