A nostalgia do contacto

por Adriana Mota em 10/11/2021

Adriana Mota, Head of Area da KCS IT, assinou um artigo de opinião no Observador sobre a importância do contacto presencial na era do trabalho remoto. Com o título “A nostalgia do contacto”, o texto pode ser lido integralmente abaixo.

 

 

A Nostalgia do Contacto

Vivemos em frente a um monitor e grande parte da nossa dinâmica social é feita através do recurso à tecnologia. Mas a tecnologia, por mais real que seja, nunca vai substituir o contacto físico.

O fruto proibido é sempre o mais apetecido…. Foi assim que nos últimos anos desejámos o trabalho remoto! Forçosamente a nossa realidade alterou-se, passámos efetivamente a ter que aprender não só a trabalhar mas a viver e conviver quase remotamente e agora sentimos falta do que sempre demos por garantido, o Contacto Físico na Era do Remoto!  

Apesar de ser objeto de estudo há pelo menos 67 anos, quando já Maslow, em 1954, afirmava “ que o Homem tinha cinco necessidades: de sobrevivência, de segurança, de relacionamento, de autoestima e de realização pessoal,“ nunca estas necessidades foram tão globalmente e simultaneamente colocadas em xeque como no século XXI.

O que estamos a experienciar hoje é uma antecipação do futuro que já todos tínhamos perspetivado mas que nunca esperámos que chegasse de forma tão abrupta.

A Era do Remoto chegou e forçou-nos a repensar aspetos importantes da vida, puxou pela nossa criatividade, pelo pensamento “fora da caixa”, obrigou-nos a sermos menos resistentes à mudança e a sermos mais tolerantes com aqueles que, naturalmente, são mais “avessos” às tecnologias e, mais importante que isso, obrigou-nos a reinventarmo-nos enquanto seres sociais.

A nossa dinâmica social alterou-se, é um facto: vivemos em frente a um monitor e grande parte da nossa dinâmica social é feita através do recurso à tecnologia. Tecnologia que nos aproxima na ausência, que nos abre as portas para o mundo e nos permite ir além-fronteiras. A tecnologia permite-nos aproximarmo-nos daqueles que estão longe de nós e de alguma forma apaziguar este sentimento tão português que é a saudade!

Porém, a dinâmica do trabalho também sofreu profundas mudanças para aqueles sectores que passaram obrigatoriamente a exercer funções em regime de teletrabalho: um simples brainstorming passou a ter que ser via teams/zoom, o acolhimento de novos colaboradores passou a ter que ser repensado, a criação de laços e de espírito de pertença às empresas passou a ser um dos maiores desafios das organizações e as próprias dinâmicas de trabalho tiveram que ser ajustadas e continuamente reajustadas. A própria dinâmica social em contexto de trabalho continua a ser desejada, como o cafezinho de 10min a meio da manhã pela necessidade não só da cafeina, mas também pela necessidade social, o brinde das conquistas, o ombro amigo nas derrotas… tudo isso continua a ser possível, mas com uma forma de ser diferente.

A nossa necessidade de estar com pessoas é tão grande que, hoje em dia, a simples chamada telefónica caiu em desuso, o SMS quase que não se utiliza, o e-mail não é suficientemente rápido… mas a realidade é que na maioria dos casos somos nós que optamos por não usar essas tecnologias, porque não nos permitem ver a pessoa do outro lado. A videochamada faz-nos sentir mais conectados à pessoa e por isso a escolhemos, numa tentativa de colmatar a falta do social.

Focando-me nas necessidades de relacionamento, a Era do Remoto traz-me sentimentos antagónicos:

— O tempo anteriormente perdido em deslocações, transito, transportes públicos foi otimizado e passamos a ter mais tempo para a família … mas em muitos casos, perdemos o contacto físico com a mesma;

— Ganhámos mais tempo para os amigos … mas perdemos o tempo de convívio com eles;

— Ganhámos qualidade de vida no que toca a poder trabalhar no conforto do lar … mas perdemos a dinâmica social do mundo que nos rodeia

— Ganhámos proporcionalmente mais autonomia e responsabilidade no trabalho … mas perdemos o “colega/amigo” do lado

— Ganhámos rapidamente inúmeras ferramentas tecnológicas que nos permitiram o contacto mais direto com os que nos são queridos … mas perdemos o contacto físico com os mesmos;

A tecnologia, por mais real que seja, nunca vai substituir o contacto físico e essa é a dura realidade de quem adora a tecnologia e tudo o que a mesma nos tem vindo a trazer.

Numa altura de grande preocupação ambiental, há sempre quem defenda que The Nature always finds a way, como uma frase muito utilizada para demarcar a passagem de uma Era. Será que o Homem, que por excelência é um ser social, encontrará a sua forma de equilibrar a importância da tecnologia com a importância do relacionamento físico?

Tanto ganhamos com a Era do Remoto, como tanto perdemos. Para que lado pesa a tua balança?

 

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